Caro leitor,
Devo comprazer-me em saber que gastas teu precioso tempo com vãs filosofias de uma mulher em corpo de adolescente saindo do casulo.
Confesso que imagino que sou uma rainha poderosa com todos os súditos aos meus pés limpando-os, beijando-os, lavando-os, tocando-os, acariciando-os. Uma orgia de luxos, riquezas, palavras e livros ocupa minha mente e me impede de organizar a bagunça de meu quarto.
Pior que um inferno astral: não sei quando dele sair...
Não terá fim!
A mulher mais bonita, poderosa, inteligente e prazerosa me faz sorrir, ela me dá prazer: sou eu rica!
Os cabelos negros descem as costas morenas nuas, desequilibradas. Os lábios carnudos e vermelhos estão tresloucados. As mãos finaz, macias e suaves estão descontroladas. O amor é cego e não sabe aonde vai. Ninguém quer conduzi-lo. A vida da moça corre perigo, porque de olhos vendados ela cruza uma ponte velha e feita de madeiras podres. Do outro lado existe o caos que a reconstruirá.
Ela já é mulher.
Ela ainda é adolescente.
Ela não saiu do casulo mas tem prazer.
O prazer é dela.
O prazer é meu.
Sou sua mulher. Sou minha mulher. Desequilibrada, tresloucada, descontrolada.
Meu amor tem medo de mim. Obcecada.
Eu tenho medo de mim. Prazerosa.
Não pode acabar. O caos não pode acabar. Quando resolver a anarquia de minh'alma, o que mais hei de buscar?