Empréstimo legítimo

A Sensação Sem Nome (por Henrique Fernandes)

Quero te na doença
E definhar contigo
Em sua mais devotada entrega
Acolhendo te sem deslizes

Quero sua verdade e nudez
Mesmo que involuntárias e indesejadas por ti

Quero sim
Espero sua ruína

Mas espero de braços abertos

Para espantar cada um de seus demônios
E manter te aqui
Em nossa última noite

Sonharemos enquanto despertos
Lindos sonhos de cura
Estarei dissimulando lindamente
Pois mais do que tudo eu quero a sua tragédia
Apenas para ser escravo do seu bem estar
Escravo e único responsável por bem tão caro

Quero te na mais horrenda forma
Quero ouvir seus gritos silenciosos
E acalmar seus dilúvios internos
Serei seu único deus
E mantenedor de seu fôlego

Quero contar todos os sorrisos
Que consigo provocar em seus lábios frios

Mesmo em imensa dor serei seu chão
Pronto para tragar te impiedosamente
E moer seus ossos no meu mais sincero abraço
Para que sejamos uma só carne

Desfalecendo juntos enquanto o tempo se estende ao infinito
Convalescentes e entrelaçados
Por algo tão maior e melhor que a vida

Quero seu drama e tormento
E interpretar contigo
Milhares de doenças

Quero sussurrar aos seus ouvidos
Mentiras sobre a esperança
Para que me devas a vida
E retribua mesmo sentindo toda a culpa do mundo

Exijo respostas exatas
Para cada indagação cruel
Que impiedosamente farei a ti
Quando não mais houver chance de defesa

Quero amor
Mesmo que sinta se me devendo isso

Quero seu fim
Mas não antes do meu
Pois não suportarei sofrer
Sem o seu testemunho resignado

Quero que sinta segurança
Sempre que eu assim o desejar
Que a moléstia consuma sua saúde
Para que não possas mais fugir de mim